Luís Nunes fala do tetracampeonato na
Montanha: “Foi mais um título ‘limpo’”
» Luís Nunes já entrou para a História do automobilismo
português como o único campeão nacional de Perícias, Velocidade e Montanha.
» No passado fim de semana, em Boticas, o piloto transmontano
conquistou o quarto título consecutivo de Turismos, mas revela as dificuldades
que lhe foram criadas e refere que nunca perdeu o sentido de ‘fair play’.
A vitória na divisão Turismos 1 e o quarto título consecutivo
na categoria Turismos do Campeonato de Portugal de Montanha JC Group formam
mais uma época praticamente perfeita para Luís Nunes. Contudo, o piloto do
concelho de Valpaços não esquece as dificuldades por que passou ao longo da
época, algumas naturais, outras criadas artificialmente, mas que valorizaram
ainda mais as vitórias com um Skoda Fabia Rally2 evo menos potente do que a
concorrência direta.
“Felizmente, na minha carreira já fui campeão nacional com
diferentes tipos de carro”, recorda Luís Nunes. “Há pilotos que acham que o regulamento deve ser
adaptado a si próprios e aos seus objetivos pessoais. Eu acho que deve ser ao
contrário. Foi mais um título ‘limpo’. Fui campeão de Turismos de Montanha com
um SEAT Leon TCR DSG, de tração dianteira. Fui vice-campeão de Turismos e
vencedor da Divisão TCR com o Audi, um carro de caixa sequencial. Fui
tricampeão nacional com o Ford Fiesta R5+ de quatros rodas motrizes. E agora
fui campeão com o Skoda Fabia Rally2 evo vindo dos ralis. Em todos esses
enfrentei concorrentes com carros bem mais potentes. Na Velocidade, tinha sido
campeão nacional com um Honda Civic Type-R de tração dianteira e caixa
manual. Nas Perícias, em início de carreira, fui campeão nacional com um
Toyota de tração traseira. Em todos estes momentos, preparei as minhas épocas
de acordo com o regulamento que existia. Esta época foi anormal, pois
inscrevemos o Skoda no grupo E1-A, uma inscrição legítima pois o carro cumpre
todas as regras do regulamento técnico da FPAK, e, por incrível que pareça, o
regulamento foi alterado 24 horas antes da primeira prova! Uma alteração que
nos obrigou a acrescentar 200 kg no nosso carro, com todas as consequências que
se adivinham, num carro de ralis, muito menos potente do que os outros
Turismos. Perante esta alteração aos regulamentos, feita não sei por influência
de quem, ponderei mesmo não fazer a Rampa de Murça. A equipa ARC Sport
trabalhou arduamente e em contrarrelógio para distribuir esse peso da forma
mais equilibrada possível pelo carro. O nosso objetivo inicial era usar esse
carro apenas nas primeiras provas, mas quando ganhámos os Turismos logo na
Rampa da Penha, por uma questão de orgulho, decidimos continuar a usar o carro
e provar que podíamos ser campeões mesmo não tendo armas iguais. Só fizemos uma
evolução do carro depois do título dos Turismos estar garantido, com mais uma
vitória na Rampa do Caramulo. Para a Rampa de Boticas colocámos um novo aileron
traseiro e trabalhámos a centralina para ganhar 30cv de potência, o que deixou
o carro com cerca de 300 cv. Acho que a justiça do nosso título e a
legitimidade do nosso carro não deixou dúvidas a ninguém, porque se as
houvesse, qualquer concorrente poderia ter apresentado um protesto e pedir a verificação
técnica do meu carro, o que nunca aconteceu. Ao longo da minha carreira, ganhei
e perdi, como todos os pilotos, em qualquer disciplina. Mas sempre respeitei
todos os meus adversários e, mesmo nos momentos de derrota, nunca arranjei
desculpas ou denegri os meus adversários para justificar o facto de não ter
alcançado os meus objetivos. Eu também gostava de ser campeão absoluto, mas,
realisticamente, para isso acontecer teria de correr com um Protótipo, o que
não me é possível. Portanto, não vou estar a arranjar um regulamento para eu
ser campeão à força, ou a denegrir os outros pilotos que conseguem esses
objetivos”, afirma Luís Nunes, que apontou, inclusive outra situação que
considera “anormal” e que ajuda a explicar o contextualizar o que se passa na
Montanha em Portugal. “Na Rampa de Boticas, uma prova especial para mim e que
admiti abertamente que queria ganhar, quando só me bastava alinhar nos treinos
para ser campeão, todos os outros cinco campeões nacionais das respetivas
categorias – Absoluto, Protótipos B, GT, Clássicos e Legends – tinham uma placa
no final da descida de consagração com a menção ao seu título de campeão de
Portugal. A exceção fui eu, que tinha uma placa com a menção à vitória na
Divisão Turismos 1, não ao título de campeão nacional. Estranho? Talvez. É só
mais um facto anormal e inexplicado.”
Considerando que “nada disto desvaloriza as nossas
vitórias e títulos, pelo contrário, só os torna mais saborosos”, Luís Nunes
quis agradecer “a todas as pessoas que nunca me deixaram desistir, a minha
família, a minha equipa, amigos, patrocinadores e todas as pessoas que
realmente gostam do automobilismo e das rampas em Portugal. Este título é,
sinceramente, para eles”, concluiu.
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João Raposo
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