Faz hoje 10 anos. Já no dia anterior, quem trabalhava para a organização - era um desses - foi para a cama sapiente que a aventura não iria ter lugar. Muitos dizem, ainda hoje, que o ASO sucumbiu ao medo. Na verdade, a organização fez aquilo que podia ter feito. As ameaças eram mais que reais. O governo francês, pátria dos organizadores, deixou claro que nada iria fazer se o ASO decidisse avançar e um ataque terrorista se confirmasse. A geopolítica da região nesses tempos antes da crise bater forte na Europa, também não ajudava. Claro que houve muitos que saíram fortemente prejudicados - e o ASO devia ter minimizado a “factura”. Sobretudo da parte nacional da organização e das centenas de amadores que investiram na concretização de um desejo e não tiveram qualquer retorno, nem o simples viver do sonho. Mas termos visto a caravana atacada com rockets num bivouac (a ameaça real) teria sido uma enorme tragédia, da qual o Dakar não recuperaria, nunca.
Lembro-me da tristeza que senti, com os olhos a ficarem molhados, quando Etienne Lavigne confirmou tudo na conferência que teve lugar no CCB. Era uma manhã também ela triste, como que carregando ainda mais de cinzento o sentimento de desolação (e alguma revolta) que se vivia na Praça do Império. Cinzento que vestia, de facto, e ainda hoje guardo religiosamente. Para além da tristeza de não repetir a locução do pódio de partida, que tanto gozo me tinha dado 12 meses antes, esta camisola irá acompanhar-me até ao fim. Para mim, haverá sempre Dakar 2008, o 30. da história de uma das maiores competições motorizadas alguma vez organizadas. A cada ano que passa, no início de mais um Dakar, penso sempre que tudo podia ter acabado se alguém não tivesse tomado uma decisão dura, difícil, verdade, mas certeira (face às ameaças).
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João Raposo
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