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MOTOS - VOLTA AO MUNDO COM FRANCISCO SANDE E CASTRO - CHILE - AMÉRICA DO SUL

Sábado, 23 Dezembro 2017 07:46 | Actualizado em Domingo, 12 Janeiro 2025 18:45

Calama é uma cidade mineira sem grande graça. O primeiro choque que temos ao chegar ao Chile é que os preços são praticamente o triplo do que praticam nos países mais a Norte da América do Sul e Central. E nesta parte do país não se percebe a razão porque restaurantes e hotéis não são melhores em qualidade.

Pensei em arrancar logo para Sul pela Pan Americana através do deserto mas recomendaram-me que visitasse S. Pedro de Atacama e arredores. Como parecia ser um desvio de apenas cem quilómetros decidi ir até lá. Pelo caminho vi um tipo parado numa KTM e dei meia volta par ver se precisava de ajuda. Era um Canadiano que tinha vindo cá a baixo e voltava rapidamente para o Canadá, por ter trabalho. Indicou-me um Hostel, bom e barato no meio do deserto onde tinha ficado essa noite.
Antes de entrar em S. Pedro fui visitar o que chamam Vale de la Luna uma parte do deserto com uma paisagem espectacular. É dos locais mais secos da terra com zonas onde não chove há centenas de anos. Cientistas testaram ali o veículo que pretendem usar em Marte.
O GPS do telemóvel mandou-me por uma estrada de terra que estava cortada e só depois de voltar à estrada principal vi a entrada utilizada ultimamente. Aquela hora o parque estava praticamente deserto. Estacionei a moto junto ao que chamam o Anfiteatro e fui visitar o local a pé. Pensei que era uma passeio de dez minutos mas passados três quartos de hora constatei que estava perdido no deserto e, para mais, tinha deixado a água na moto. A andar, com as botas, pela areia fiquei estafado mas, felizmente, pouco depois, do alto de uma ravina, pude ver a moto lá em baixo. Quando cheguei junto da moto encontrei três rapazes e duas raparigas que para ali tinham ido de bicicleta e estavam desesperados porque se lhes tinha acabado a água. Pediram se eu dizia aos guardas da entrada, a oito quilómetros de ali, que lhes fossem levar água mas como estes não a tivessem fui até uma aldeia, a meia dúzia de quilómetros, comprar água. Quando voltei já não os encontrei. Teriam arranjado boleia de alguma carrinha que os levou de volta com as bicicletas.
Parti almoçar em S. Pedro e segui para a espécie de Hostal recomendado pelo Canadiano, dois ou três quilómetros fora da vila. Uma pequena quinta onde a caldeira de água quente era uma fornalha de ferro ferrugento em frente de casa, alimentada a lenha, que dava a sensação  ir explodir a qualquer momento. Mas funcionou bem e no silencio do deserto dormi que nem um anjo.
No dia seguinte parti a visitar as lagoas de Miniques e Miscanti que pensava serem a quarenta ou cinquenta quilómetros mas eram a 120. A meio caminho dei conta do mau cálculo e constatei que não só não tinha gasolina para lá chegar como nem sequer dava para regressar a S. Pedro de Atacama, único lugar num circulo de 200 Km com bomba de gasolina. Entrei então numa aldeia, das que só têm ruas em terra e perguntei se alguém teria gasolina. Acabaram por me enviar a um mini mercado onde uma menina me vendeu 10 litros em dois garrafões de plástico que resolveram a situação. As lagoas são lindas, com vulcões de glaciares no topo, por trás.
Nesse mesmo dia fiz o caminho de volta a Calama e segui para Sul até Antofagasta, uma cidade junto à costa já mais atractiva. Começava a entrar no Chile que justificava um pouco os preços exagerados que ali se praticam.





Calama - Chile


Quando finalmente cheguei aquela fronteira no meio do deserto, entre a Bolívia e o Chile, os chilenos receberam-me com ar desconfiado. Até ali, ao descer dos Estados Unidos para Sul, tinha vindo no sentido contrário ao trajecto dos comerciantes de coca e por isso nunca nas fronteiras me tinham revistado a moto mas agora já estava no sentido dos traficantes pois a Bolívia é um dos grandes produtores, que também a exporta para os países do Sul. Para além disso eu viajava sozinho e atravessava uma fronteira perdida no meio do deserto. Era motivo para desconfiar. A rapariga que trata da documentação foi chamar um homem, que parecia mais graduado, para a acompanhar na revista à moto. E pediram para abrir todas as malas e saco onde trago a tenda, saco cama e algumas peças.
Começou por estranhar uma embalagem de finilec, o produto para reparar furos, que tinha largado líquido para dentro do saco onde vinha embalada mas o chefe cheirou o produto e achou que não era caso de preocupação. O pior foi quando, ao me pedirem para esvaziar os conteúdos da “top case”, a caixa por trás do banco, deram com os restos de uns croissants horríveis que ali tinham ficado esquecidos num pequeno saco de plástico há semanas e se tinham transformado em pó.
Deu-me vontade de rir porque me lembrei da cena do Ricardo Araújo Pereira com o “Kunami”
- O que é isto?
- São croissants podres.
_ Croissants podres? Dizia ela com ar desconfiado ao mesmo tempo que olhava para o chefe com ar de “temos caso”.
- Sim. Vou deitá-los fora.
- Não senhor. Não deita fora que nós levamos para análise.
E assim foi. Ficaram satisfeitos com os croissants podres e deixaram-me seguir viagem.
Do lado do Chile havia uma estrada maravilhosamente alcatroada que me soube como chapéu de chuva em dia de tempestade. Fiz depois 200 Km através desta estrada praticamente deserta que nos faz sentir como se estivéssemos noutro planeta. Uma paisagem maravilhosa pelo meio de vulcões e salares que temos a sensação nunca terem sido pisados por humanos. Sensacional. Comecei por não resistir a parar a cada cinco minutos para fotografar mas às tantas decidi que não podia continuar aquele ritmo e limitei-me a rodar, maravilhado com o que se me apresentava à volta e que parecia estar ali para me encantar, sentindo até um certo egoísmo por não ter com quem partilhar aquelas imagens a que as fotografias não fazem justiça.
Já perto de Calama começamos a ver algum movimento de camiões e carrinhas de caixa aberta com autocolantes da companhia estatal de exploração mineral que ali extraem cobre, de que o Chile é o primeiro produtor mundial.


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