Acabei de ver  “Ferrari Race to Immortality”. Não esperem um filme sobre Enzo. Ou sobre a marca. Percebi isso quando soube ser o mesmo baseado no livro de Chris Nixon, “Mon Ami Mate”, publicado em 1991, o relato de uma amizade fora do comum, que comprei, faz muitos anos, numas 24 Horas de Le Mans e devorei num dia.
Na verdade, o título do filme deveria ser o da obra onde foi buscar inspiração. Mas não iria ter o impacto que tem a palavra “Ferrari”, como não teria se colocasse ...em destaque a história de dois homens – Peter Collins e Mike Hawthorn.
Nos minutos iniciais do filme, ficou-me a ideia de apenas se procurar retratar acidentes, fazer destes a base do argumento, para ser mais vendável. Percebi depois que era mesmo uma opção, mas não de forma macabra.
O filme quer chocar. E, tal como o livro, chocou-me. Usa a morte como “enredo”. Torna-a heroica, mas complacente, aceitável até. Aliás, inevitável, como se fosse uma normalidade no palco de uma “guerra” entre os homens, as máquinas e as pistas.
Os acidentes, a par da presença da voz de Enzo, são apenas a “cola” para o efeito pretendido: o tal “choque” da inevitabilidade. Transportam-nos para outra realidade, nos anos 50 do século passado, que não tem paralelo nos dias de hoje, seja nas corridas ou fora delas.
É um filme que não precisa de inventar um argumento. A vida encarregou-se de proporcionar um, perfeito, mostrando que a realidade é muito mais preenchida de factos que a ficção.
Não se fica pelo “film/doc” sobre carros, a Ferrari e as corridas. Vai mais além. Por isso mesmo, é melhor que “Senna”, “Williams” ou “McLaren”. Ou se calhar não é. Apenas será aos meus olhos porque ainda não era nascido para viver esse pedaço da História. Uma coisa tenho como certa: “Ferrari Race to Immortality” não deixará ninguém indiferente.