Quando, no camião com a moto atrás, chegámos a um ponto onde já havia sinal
de telemóvel, ligamos ao meu amigo Adalberto, do “Refugio del Motociclista”,
que há dias me esperava:
- Tranquilo, Francisco. No te preocupes. Te estoy preparando un asado para
cuando llegues.
Tinha conhecido o Adalberto em Uyuni, na Bolívia, e simpatizei logo com o
homem. Ele vive na aldeia de Argerich cuja população não são mais de 110
habitantes. Como grande entusiasta das viagens de moto criou este “Refugio del
Motociclista, Ruta 22” que não é mais que um pequeno Hostel com uma única sala
que tem meia dúzia de camas, uns sofás, uma mesa de casa de jantar, duas casas
de banho e uma cozinha. Tudo o que é necessário. As instalações pertencem à
freguesia local e o “Refugio” não pretende dar lucro. Cada motociclista que lá
fica paga o que quiser para ajudar nas despesas.
Depois de descarregarmos a moto junto à estrada principal, onde o Adalberto
me esperava com dois amigos para ajudarem, segui-o pela estrada de terra da aldeia
até ao “Refugio” e ele, ao entrar, pediu que esperasse cá fora um pouco que
tinha uma surpresa. Colocou então, em alto som, o hino português a tocar e, ao
microfone, fez como que uma apresentação da minha entrada no Refugio, pedindo
que cantasse o hino. Grande galhofa.
Em Argerich, há uns anos, pensaram que havia petróleo no subsolo e a
comunidade decidiu fazer um furo para o tentarem captar. Furaram cem, duzentos,
trezentos metros por ai fora e nada de petróleo. Mas decidiram continuar,
seiscentos, setecentos, oitocentos, até que... aos 1000 metros não encontraram
petróleo mas água, de proveniência vulcânica e portanto quente. Ligaram-na à
rede e deitaram fora os esquentadores. A água é regularmente testada e tem a
pureza de água mineral pela que é a única que utilizam. O problema, quando
tomei duche é que sai tão quente da torneira que quase queima. E não há fria,
para temperar.
Depois do episódio do hino o Adalberto anunciou:
- A minha mulher está ali em casa a preparar uma salada. Enquanto eu asso a
carne dá um mergulho aqui no Spa do “Refugio”, disse-me ele divertido enquanto
me mostrava a pequena piscina de plástico rígido que enche com água quente e
que me soube como o de um Hotel de cinco estrelas depois do dia que tinha tido.
A simpática mulher do Adalberto, uma descendente de italianos com menos 14
anos que ele, e a filha, de 12, vieram jantar o excelente “asado” e dormi que
nem um anjo no “Refugio”.
No dia seguinte desmontámos as rodas da moto e fomos a Bahia Blanca, a
cidade próxima, comprar pneus. Da parte da tarde fiquei a escrever enquanto o
Adalberto foi tratar das 700 vacas que tem a pastar numa herdade ali perto.
- 700 são muitas vacas.
- Aqui na Argentina, não. Qualquer pequeno agricultor tem pelo menos cem.
À noite convidou um animado grupo de oito amigos para me virem conhecer em
mais um grande asado no “Refugio”.